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A CHEGADA DO AMOR - Nílvio Pessanha


  
A CHEGADA DO AMOR
I
Só.
Em meu apartamento.
Sede.
Vou à cozinha.
Bebo água.

Não está gelada.
Olho a janela.
Dá para a estrada.
Vejo um ônibus parado no trânsito engarrafado.
Dou graças a Deus pela folga.
Deveria estar naquele ônibus.
Vejo passageiros de tristes olhares.
Desesperançosos, resignados, sei lá.
Tanto faz.
Mas vejo um olhar diferente.
Calmo, terno, distante.
Lindo!
Olho o rosto.
Lindo!
Uma mulher linda!
Seu olhar me olha.
O ônibus anda.
O olhar dela vai.
O meu fica...
confuso, inquieto, sei lá,
tanto faz.

II
Vira o dia.
Indo trabalhar.
Em pé.
Ônibus lotado.
Pra variar.
Meu olhar perdido.
Querendo esquecer.
O mundo.
Meu olhar perdido
encontra
um olhar calmo, terno, distante
lindo!
É ela!!!
Seu olhar me olha
e desvia.
Terá lembrado de mim?
Tento disfarçar, fugir, me controlar.
É inútil.
Meu olhar volta.
Então me entrego.
Olho, olho, olho e olho.
Ela também, mas desvia.
Meu ponto passa, mas nem olho.
Só tenho olhar pra ela.
Chega o ponto dela.
Ela desce, me olha e sorri.
Eu só olho.
Vidrado, hipnotizado, apaixonado, sei lá
tanto faz.

III
Novo dia.
Novas trocas de olhares.
Meu ponto passa novamente.
Nem ligo.
Ela desce do ônibus. Eu decido descer atrás.
Hesito, gaguejo, mas a chamo.
Ela, também hesitante, se volta para mim.
Digo a ela que estou perturbado, abobalhado,
apaixonado.
Ela diz que eu nem a conheço.
Respondo que a acompanho há dias.
O suficiente para a paixão surgir.
Como um verme corroendo meus pensamentos.
A parte do verme não disse.
Só pensei.
Achei forçação de barra.
Talvez devesse ter dito.
O que ela ouviu não a convenceu.
Disse que era loucura.
Virou as costas e foi.
E fiquei ali.
Parado.
Só.
Angustiado, desolado, sei lá.
Tanto faz.

IV
Dois dias depois.
Ônibus lotado.
Passo do meu ponto.
Me atraso.
Ela desce.
Eu desço.
A chamo.
Ela se volta a mim.
Antes que fale, eu falo.
Lhe imploro por um café.
Um mísero café quente e ingênuo.
Ela balança, mas aceita.
Foi o café mais preto, quente e gostoso de minha vida.
Dia seguinte.
Marcamos um almoço.
Converso.
Elogio.
Como.
Olho.
Seduzo e ...
beijo...
sua boca.
Linda!
Gostosa!
Apaixonante!
Saliva?
Não!
Um néctar embriagante e alucinógeno
que me faz sentir e ver estrelas.
O beijo evolui.
Carícias.
Suor.
Tensão.
Tesão.
Sexo.
Sim.
Transamos.
Linda e gostosamente.
E, por que não,
gozosamente.
Foi mágico.
Regado a troca de juras.
Como disse,
foi mágico!

V
Chego em casa.
Apressado.
Corro pro banheiro.
Tomo banho.
Tenso.
Preocupado.
Ponho a roupa.
E aguardo.
Que descuido!!!
Corro.
Pego a carteira.
Tiro dela e coloco
a aliança.
Agora sim.
Relaxo e aguardo...

Nilvio P. Pinheiro

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