No primeiro semestre de 2011, foi publicado o livro Geração Zero Zero, do
escritor Nelson de Oliveira, onde reunia contos inéditos de vários escritores surgidos
na primeira década do século 21, e entre eles, Lourenço Mutarelli. Na obra, Nelson de
Oliveira nos diz que “há pelo menos um forte ponto de contato entre todos os autores
(...): o bizarro.”
Não me cabe aqui entrar no mérito de discutir a caracterização dada por
Nelson de Oliveira dada a esse grupo de autores, coisa que já deu polêmica entre
críticos no campo literário, mas no que tange ao caso de Lourenço Mutarelli me atrevo
a concordar com o bizarro e do grotesco contido na obra do escritor paulista.
Lourenço Mutarelli começou como cartunista underground na década de 80 e
estreou na literatura com o romance O Cheiro do Ralo em 2002, e que foi adaptado
para o cinema em 2007. Mutarelli publicou mais cinco romances, entre eles os
elogiados O Natimorto e A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, ambos os livros
reforçam a relação de Mutarelli com o cinema. A primeira obra já foi adaptada e a
segunda está em fase de produção. Vale destacar que as duas adaptações
cinematográficas já lançadas contaram com a atuação do próprio Mutarelli no elenco.
Nas três obras literárias acima mencionadas, a presença do bizarro, do
grotesco, do estranho parece bem notória. O Cheiro do Ralo traz uma trama de
atmosfera um tanto obscura e pessimista que fala de um dono de uma loja de
antiguidades que luta contra o cheiro fétido que vem do ralo do banheiro da loja. Em
O Natimorto o protagonista acompanha uma insólita cantora lírica com quem acaba
tecendo um estranha relação. No decorrer da narrativa, detalhes estranhos são
revelados do passado e da personalidade do protagonista. Já em A Arte de Produzir
Efeito Sem Causa, o personagem central deixa a mulher e o emprego e volta para
casa paterna, e passa então a viver a rotina de conversas com uma jovem inquilina
do pai e curtir sua vida de desocupado bebendo num bar, até que pacotes anônimos e
estranhos começam a chegar pelo correio e alteram sua monótona rotina.
Nos três romances, outro ponto comum é a presença de protagonistas
problemáticos e excêntricos. Em A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, por exemplo, o
leitor pode acompanhar a degradação mental do protagonista. O personagem central
de O Natimorto apresenta fortes traços de psicopatia, e o dono da loja de antiguidades
de O Cheiro do Ralo é um sujeito cheio de obsessões como pela figura do pai e pela
bunda de uma atendente de lanchonete.
Talvez o termo bizarro, entendido como algo diferente, estranho, seja até
certo ponto um tanto light para certos momentos da ficção de Mutarelli que beiram
o grotesco e o escatológico, mas o certo é que justamente esse ar extravagante
e diferente que marca e intriga em sua obra. Diria até que seus livros podem ser
conceituados como magnetizantemente bizarros. Mas além de sua narrativa incomum,
seus livros trazem também uma estrutura formal, ousada e singular como em O
Natimorto que alia uma estrutura de poema, de texto dramático e de prosa.
Como disse acima, sua ficção é magnetizante e intrigante, seja pelo bizarro de
suas tramas e de seus estranhos personagens, seja por sua ousadia formal. Lourenço
Mutarelli é o atestado de qualidade da ficção contemporânea nacional. Cabe até
fechar os olhos e escolher um dos livros dele às cegas que estará bem escolhido.
Texto de Nílvio Pessanha, o mais novo colaborador do MN literatura!
escritor Nelson de Oliveira, onde reunia contos inéditos de vários escritores surgidos
na primeira década do século 21, e entre eles, Lourenço Mutarelli. Na obra, Nelson de
Oliveira nos diz que “há pelo menos um forte ponto de contato entre todos os autores
(...): o bizarro.”
Não me cabe aqui entrar no mérito de discutir a caracterização dada por
Nelson de Oliveira dada a esse grupo de autores, coisa que já deu polêmica entre
críticos no campo literário, mas no que tange ao caso de Lourenço Mutarelli me atrevo
a concordar com o bizarro e do grotesco contido na obra do escritor paulista.
Lourenço Mutarelli começou como cartunista underground na década de 80 e
estreou na literatura com o romance O Cheiro do Ralo em 2002, e que foi adaptado
para o cinema em 2007. Mutarelli publicou mais cinco romances, entre eles os
elogiados O Natimorto e A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, ambos os livros
reforçam a relação de Mutarelli com o cinema. A primeira obra já foi adaptada e a
segunda está em fase de produção. Vale destacar que as duas adaptações
cinematográficas já lançadas contaram com a atuação do próprio Mutarelli no elenco.
Nas três obras literárias acima mencionadas, a presença do bizarro, do
grotesco, do estranho parece bem notória. O Cheiro do Ralo traz uma trama de
atmosfera um tanto obscura e pessimista que fala de um dono de uma loja de
antiguidades que luta contra o cheiro fétido que vem do ralo do banheiro da loja. Em
O Natimorto o protagonista acompanha uma insólita cantora lírica com quem acaba
tecendo um estranha relação. No decorrer da narrativa, detalhes estranhos são
revelados do passado e da personalidade do protagonista. Já em A Arte de Produzir
Efeito Sem Causa, o personagem central deixa a mulher e o emprego e volta para
casa paterna, e passa então a viver a rotina de conversas com uma jovem inquilina
do pai e curtir sua vida de desocupado bebendo num bar, até que pacotes anônimos e
estranhos começam a chegar pelo correio e alteram sua monótona rotina.
Nos três romances, outro ponto comum é a presença de protagonistas
problemáticos e excêntricos. Em A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, por exemplo, o
leitor pode acompanhar a degradação mental do protagonista. O personagem central
de O Natimorto apresenta fortes traços de psicopatia, e o dono da loja de antiguidades
de O Cheiro do Ralo é um sujeito cheio de obsessões como pela figura do pai e pela
bunda de uma atendente de lanchonete.
Talvez o termo bizarro, entendido como algo diferente, estranho, seja até
certo ponto um tanto light para certos momentos da ficção de Mutarelli que beiram
o grotesco e o escatológico, mas o certo é que justamente esse ar extravagante
e diferente que marca e intriga em sua obra. Diria até que seus livros podem ser
conceituados como magnetizantemente bizarros. Mas além de sua narrativa incomum,
seus livros trazem também uma estrutura formal, ousada e singular como em O
Natimorto que alia uma estrutura de poema, de texto dramático e de prosa.
Como disse acima, sua ficção é magnetizante e intrigante, seja pelo bizarro de
suas tramas e de seus estranhos personagens, seja por sua ousadia formal. Lourenço
Mutarelli é o atestado de qualidade da ficção contemporânea nacional. Cabe até
fechar os olhos e escolher um dos livros dele às cegas que estará bem escolhido.
Texto de Nílvio Pessanha, o mais novo colaborador do MN literatura!
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